Em entrevista à revista Fórum e para a Rádio CBN, coordenador acadêmico da Academia afirmou que presidente cometeu o crime de abuso de poder político
Nesta quinta-feira (29), o presidente Jair Bolsonaro fez uma live em que prometeu apresentar provas da suposta fraude nas urnas que tanto vem divulgando. Em quase 2 horas de transmissão, no entanto, o chefe do Executivo não mostrou uma prova sequer e se limitou a usar animações, vídeos de WhasApp e notícias antigas, já desmentidas, como “evidências” de supostas irregularidades no sistema eleitoral. Em determinado momento, o próprio presidente admitiu: “Não temos provas, vou deixar bem claro, mas indícios de que eleições para senadores e deputados podem ocorrer a mesma coisa”.
Entrevistado pela revista Fórum e pela Rádio CBN, o coordenador acadêmico da ABRADEP (Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político), Renato Ribeiro de Almeida, avaliou que a narrativa de Bolsonaro sobre fraudes nas urnas e sua insistência no voto impresso se dá pelo fato de que o chefe do Executivo sabe que vai perder o próximo pleito e, por isso, tenta criar um inimigo. No caso, a urna eletrônica.
Campanha antecipada e abuso de poder
Para Almeida, a nova investida de Bolsonaro contra o sistema eleitoral brasileiro durante a live teve mais um componente grave. A transmissão ao vivo foi veiculada pela TV Brasil, emissora pública. O espaço, no entanto, foi utilizado de forma a amplificar para mais pessoas as distorções e fake news do presidente sobre as eleições no Brasil. A iniciativa configura campanha eleitoral antecipada e abuso de poder. “Uma TV pública não pode se prestar a isso. De forma alguma. Ela tem o pressuposto de informar a população, de mostrar diversas opiniões, e não de dar palanque a uma live do presidente que não apresenta nada de concreto, faz simplesmente um discurso retórico, requenta coisas anteriormente ditas. Isso é, sim, campanha antecipada, abuso de poder político e merece devida reprimenda, acionando o Ministério Público Eleitoral para que a Justiça Eleitoral tome as medidas cabíveis”, atesta.