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10/03/2022Num intervalo de menos de 24 horas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) transformou os palácios do Planalto e da Alvorada em palco de encontros de viés eleitoral, para agradar a aliados religiosos, acenar a mulheres e até reunir pecuaristas mobilizados para doar dinheiro a sua futura campanha. O último deles foi um amplo ato de apoio de líderes evangélicos, um setor que ainda tem questões a resolver com o presidente – como o respaldo de parte do governo à aprovação dos jogos de azar no Congresso – e sofre intenso assédio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-juiz Sérgio Moro (Podemos), virtuais adversários na disputa eleitoral.
Pela manhã, Bolsonaro participou de cerimônia do Dia Internacional da Mulher, onde cometeu gafe. Afirmou que hoje em dia as mulheres estão “praticamente integradas à sociedade”. “Assim como a mulher foi feita do homem, assim também o homem nasce da mulher e tudo vem de Deus”, disse durante a solenidade no Palácio do Planalto.
Anteontem, sem registro em agenda, Bolsonaro se reuniu com produtores rurais. Colocou ao seu lado no encontro, o administrador de fazenda em Rondônia Bruno Scheid, apontado por ruralistas como porta-voz de pedidos de doação para a campanha do presidente.
Posteriormente, a conversa foi registrada pelo Planalto como encontro com o Movimento Ação Voluntária Amigos da Pecuária. Eles se mobilizam para arrecadar doações à campanha de Bolsonaro. Segundo Scheid, a reunião não teve pauta de reivindicações, mas serviu para manifestar o “apoio do agro ao presidente e agradecer o que o governo tem feito pelo setor”.
Ontem à tarde, no Alvorada, Bolsonaro promoveu uma recepção a chefes de igrejas pentecostais e neopentecostais na residência oficial, ao lado da primeira-dama Michelle Bolsonaro e de ministros. O movimento serviu como uma espécie de oficialização do apoio das igrejas presentes à reeleição do presidente. A aproximação partiu de uma iniciativa da Presidência da República, depois que líderes religiosos manifestaram distanciamento do presidente, dizendo que não queriam se engajar na campanha, como revelou o Estadão.
“É a oficialização do apoio das grandes igrejas ao presidente, embora já estejam com ele, entendo que é isso”, resumiu o bispo Robson Rodovalho, líder da Igreja Sara Nossa Terra.
Marcelo Weick, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e membro da ABRADEP, observou que nesta fase de pré-campanha a única movimentação permitida para a captação de recurso é por meio dos partidos políticos, mediante prestação de contas na Justiça Eleitoral.
De acordo com a Lei Eleitoral, é vedado a agentes públicos “ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União”. Para Weick, os encontros no Planalto – dedicado exclusivamente a atividades de trabalho da Presidência da República – podem, eventualmente, ser considerados crimes eleitorais. “No Alvorada não tem problema, ele (Bolsonaro) tem essa ressalva, inclusive no período eleitoral.”