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Esse artigo contém um spoiler de “The Boys”. Mas, sobretudo, ele serve a uma reflexão sobre o momento de violência política que o Brasil está enfrentando. Aliás, se você está acompanhando a série, esse spoiler não é, de modo algum, algo que você já não esperasse. Ele é previsível. E isso explica muita coisa sobre a previsibilidade dos fatos que aconteceram em nosso país.
No último episódio da terceira temporada da série, Homelander (Capitão Pátria, na versão brasileira) assassina, na frente de todos, em um comício destinado a ele, um militante político de oposição, pelo simples fato dele ter proferido críticas ao seu modo de pensar. Curiosamente, as pessoas que estavam no comício, ao invés de repreenderem a postura do líder, vibram e batem palmas, como se o seu time de futebol tivesse feito um gol.
O assassinato foi o ato final de uma temporada inteira embalada pela polarização, pela desinformação e pelo negacionismo. Portanto, o contexto foi crucial para que o assassinato fosse aclamado. Mas que contexto é esse que vivemos que legitima que aquele que pensa diferente seja morto?
Em uma daquelas situações em que a vida imita a arte, dias após a transmissão do último episódio da série no Brasil, um militante da ala conservadora assassinou Marcelo Arruda, tesoureiro do Partido dos Trabalhadores. Naquela mesma semana, outros episódios de violência política vieram à tona.
Levitsky e Ziblatt, autores de “Como as democracias morrem”, defendem que alguma polarização é saudável para a democracia, mas que, quando as sociedades se dividem tão profundamente que os membros segredados passam a ter visões políticas não apenas diferentes, mas mutuamente excludentes, as rivalidades partidárias deixam de ser saudáveis e dão lugar a percepções de ameaça mútua. Assim, o outro deixa de ser visto como alguém diferente e passa a ser encarado como alguém que deve ser eliminado.
Portanto, o contexto que legitima a morte do opositor político é aquele em que o debate de ideias foi sendo minado gradativamente, em que não se está preocupado com o verdadeiro espírito democrático.
A solução para o que se enfrenta, na realidade e na ficção, é o resgate à crença na tolerância mútua e na dignidade intrínseca a cada um de nós. Democracia pressupõe não apenas eleições periódicas e justas, mas também – e talvez principalmente – o respeito ao outro.