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28/09/2023O Metrópoles conversou com especialistas que explicam as escolhas de Lula quanto às ações voltadas para mulheres
Desde a campanha eleitoral de 2022, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) levanta a bandeira de fazer um governo em prol das mulheres. Durante o início do mandato, essa abordagem se refletiu na aprovação de projetos de lei e decretos relacionados à questão, sob o slogan “O governo que respeita todas as mulheres”. Contudo, qual a razão para tantas ações voltadas ao eleitorado feminino? O Metrópoles conversou com especialistas que explicam a escolha.
Amanda Breton, cientista política, expõe que as políticas públicas voltadas às mulheres sancionadas pelo atual governo Lula se devem, principalmente, ao fato de o eleitorado brasileiro ser composto por 52,65% de mulheres, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Ao abordar questões que são de grande importância para as mulheres, Lula busca consolidar o apoio desse grupo demográfico, o que pode ser crucial para alcançar uma possível reeleição e para a manutenção de uma coalizão política sólida. Apesar de já ter afirmado que não concorreria à reeleição, o Diretório Nacional do PT divulgou, em 30 de agosto de 2023, uma resolução defendendo abertamente a reeleição do presidente em 2026”, explica Amanda.
Durante uma visita de Lula a Angola, em 25 de agosto, o presidente fez um discurso afirmando que a desigualdade de gênero é a “mais grave” e que as mulheres podem ser a maioria e governar o mundo. Amanda Braton afirma que, no âmbito internacional, questões relacionadas a gênero e ao empoderamento das mulheres têm grande relevância.
“Adotando políticas que promovam os direitos das mulheres, Lula pode ganhar visibilidade internacional e melhorar as relações diplomáticas do Brasil. Ao enfatizar políticas que promovem o empoderamento e a igualdade de gênero, Lula não apenas atende às demandas de sua base de apoio e ao seu alinhamento ideológico com a esquerda, mas também abraça uma visão mais ampla de justiça social e direitos humanos que tem implicações tanto no cenário nacional quanto internacional”, diz a cientista.
Ao investir em políticas públicas em prol das mulheres, Braton acredita que o presidente pode se posicionar como um líder comprometido em melhorar a qualidade de vida das mulheres e de suas famílias e que isso “certamente deve agradar seus eleitores”.
Clarissa Fonseca Maia, advogada e integrante da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), destaca que Lula tem apostado nas ações a favor das mulheres como uma das estratégias centrais para caracterizar a sua administração, mas também para que estes atos representem um “marco de superação do modelo misógino e conservador do governo Bolsonaro”.
Contudo, Clarissa salienta “Para que o governo Lula represente, de fato, uma mudança de paradigma em prol das mulheres, as políticas públicas femininas devem continuar em franca ascensão, sendo defendidas e efetivamente implementadas. Somente assim será possível corrigir desigualdades de gênero históricas, apagar o discurso retrógrado e misógino do governo passado e seguir com o projeto de um país mais justo, igualitário e inclusivo.”
Mulheres no governo são minoria
Apesar das série de medidas em prol de mulheres, estas ainda correspondem a uma porcentagem pequena no ministeriado de Lula. No primeiro escalão do governo, apenas 10 mulheres ocupam cargos de ministra, diante da presença de 27 homens. Isso representa somente 27% dos cargos mais altos do Poder Executivo nas mãos de mulheres.
Entre os cargos de alto escalão, que incluem diretorias, secretarias e ministérios, as mulheres ocupam apenas 33% dos postos no governo do petista, sendo que elas representam 45% da força de trabalho do governo federal atualmente.
A representação feminina nos ministérios ficou ainda menor ma última semana, quando Lula sacrificou a ministra do Esporte, Ana Moser, para acomodar o deputado federal André Fufuca (Progressistas) e, dessa forma, satisfazer uma das legendas do Centrão.