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Apesar das orientações de sua equipe para evitar mencionar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua a fazer referência ao seu rival político em seus discursos. Em uma recente entrevista à rádio CBN, Lula confirmou ter sido aconselhado a não citar o nome de seu antecessor.
Essa decisão do presidente de evitar mencionar Bolsonaro é parte de um esforço para reduzir a polarização política, retomar o discurso de pacificação no país e enfatizar suas próprias realizações. Essa estratégia se baseia em pesquisas que apontaram uma queda em sua popularidade quando ele atacava diretamente seu adversário político.
Contudo, mesmo sem mencionar Bolsonaro nominalmente, Lula tem feito declarações que claramente se referem a ele, como evidenciado em dois eventos realizados na quinta-feira (20), no Ceará.
Durante o primeiro evento, em que anunciou um investimento federal para os institutos federais do Ceará, Lula usou uma metáfora, comparando a gestão anterior a uma “praga de gafanhotos”.
Em outra ocasião, durante a entrega de habitações do programa Minha Casa, Minha Vida, Lula novamente mencionou a “praga de gafanhotos”, indicando as oportunidades perdidas durante a gestão anterior e reforçando a importância de avançar com seus projetos.
Além disso, o presidente destacou que o atual ministro da Educação, Camilo Santana, foi governador do Ceará por 8 anos, mas que, durante seu mandato, o ex-presidente Jair Bolsonaro “nunca veio fazer uma visita para ele”.
Na sexta-feira (21), o presidente Lula concedeu entrevista à rádio Meio, no Piauí, e voltou a fazer alusão à gestão anterior. “Aqui no Brasil, estamos vivendo a seguinte situação: houve uma eleição muito polarizada, em que meu adversário utilizou R$300 bilhões nos últimos dois anos do mandato dele, entre isenção, desoneração e distribuição de dinheiro para ver se se mantinha no poder”.
Lula ainda citou que o ex-presidente Jair Bolsonaro “tinha um projeto de poder autoritário”: “Tanto é que, em qualquer vaga que surgia, ele colocava um militar da turma dele”, afirmou.
Na mesma data, durante uma entrevista à rádio Mirante News FM, Lula declarou que o ex-presidente “não respeitava nenhuma instituição democrática” e apenas “respeitava aquilo que foi a criação dele, o ódio, a desavença, o confronto”.
Ele também mencionou Olavo de Carvalho, falecido em 2022, que foi assessor intelectual do ex-presidente: “Olavo de Carvalho vendia a ideia de que a terra era plana, esse tipo de pessoa governou o país”.
Segundo o cientista político Valdir Pucci, a estratégia de Lula em se manter na polarização política, mesmo contra as orientações de sua equipe, é uma jogada inteligente. Pucci destaca que Lula trabalha muito bem com a ideia da polarização política.
“Lula sabe que grande parte da conquista que teve em 2022 vem justamente dessa polarização política. Uma boa parte dos eleitores que levaram à sua vitória o fizeram não por gostarem do governo Lula, mas sim por não gostarem de Bolsonaro e do que ele representa. Essa é a ideia do voto útil. Ou seja, o cidadão vota em Lula não para elegê-lo, mas sim para não reeleger Bolsonaro. Então, uma grande parcela da sociedade votou dessa forma. Da mesma maneira, muita gente votou em Bolsonaro não por gostar dele, mas sim por não querer o retorno do PT ao governo”, afirmou.
Segundo Pucci, Lula sabe que, ao atacar seu adversário da polarização, ou seja, Bolsonaro, está atraindo para si uma porcentagem de votos muito importante. São aqueles que votam em Lula ou em Bolsonaro não por gostarem, mas por rejeitarem mais o outro candidato.
“Lula tem a leitura de que Bolsonaro é seu inimigo e um excelente cabo eleitoral para as eleições, tanto as municipais deste ano quanto as gerais de 2026”.
Pucci afirmou ainda que “Lula não tem interesse em diminuir a polarização. Na verdade, ele coloca isso mais aos seus ministros, às pessoas que fazem parte do governo, na tentativa de minimizar essa polarização para mostrar serviço. Agora, Lula, assim como Bolsonaro, irá continuar investindo na polarização como cabo eleitoral”.
Por outro lado, Breno Guimarães, cientista político e membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), afirma que as recentes declarações do presidente Lula “contribuem no acirramento contra os apoiadores de Bolsonaro, o que ajuda na manutenção de um clima de polarização da política nacional”.
“Para o Lulismo continuar forte é preciso ter um adversário forte para enfrentar os pontos ideológicos divergentes. No atual momento da política brasileira, o ex-presidente Jair Bolsonaro ainda consegue reunir um grupo de apoiadores capazes de enfrentar e divergir das pautas ideológicas da centro-esquerda no país”, enfatizou.