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23/10/2025Por Rafael Braga de Moura
Liberdade de expressão não é passaporte para impunidade
Nós vivemos uma época em que qualquer indivíduo com um celular se transformou em meio de comunicação. A rede social mudou a forma como as pessoas falam, transformando-a em um espetáculo. Como resultado, a linha entre o direito de se expressar e o dever de informar tornou-se quase imperceptível. Embora a democratização da palavra tenha sido uma conquista, também deu origem a uma distorção perigosa: muitas pessoas confundem o direito de se expressar com o direito de dizer qualquer coisa sem enfrentar consequências.
Um dos pilares da democracia é a liberdade de expressão, porém ela não é um território sem lei. Ela foi concebida para salvaguardar ideias, críticas e diferenças – e não para validar ofensas, ataques pessoais ou campanhas de desinformação disfarçadas de opinião. O direito de se expressar não isenta a responsabilidade pelo que se afirma. Contudo, é frequente encontrar pessoas que invocam a liberdade de expressão como um escudo para disseminar mentiras. Quando são confrontadas, reivindicam o título de “jornalista” e exigem o respeito destinado àqueles que informam com responsabilidade.
Essa confusão é reflexo de uma época em que a palavra acelerou sua velocidade, mas perdeu seu peso. O problema não reside em expressar uma opinião, mas sim em não distinguir entre opinar e informar. A opinião é livre, porém a informação requer método, verificação e compromisso com a verdade. E é nesse ponto que o jornalismo se diferencia do simples ato de falar: ele não é uma vitrine pessoal, mas uma responsabilidade social.
O verdadeiro jornalista não se resguarda usando o rótulo de imprensa, mas agindo com integridade. Ele investiga, compara relatos, comete erros e os corrige. Por outro lado, o “comunicador instantâneo” das redes sociais opta pelo atalho da viralização: fala primeiro, pensa depois – se pensa. A manchete se transformou em tuíte, o editorial em vídeo curto, e a reflexão foi trocada por indignação performática.
A qualidade do debate foi corroída pela banalização da fala pública. Em nome da liberdade de expressão, proliferaram vozes que confundem ruído com importância. Como resultado, temos uma sociedade repleta de opiniões e carente de escuta. Hoje, é comum encontrar pessoas que reivindicam o direito de se expressar, mas se negam a assumir a responsabilidade pelo que afirmam.
Quando praticado de maneira autêntica, o jornalismo é a solução para essa desordem. Ele representa o freio ético da informação, e não o pretexto de quem busca imunidade para cometer erros. Reivindicar o título de jornalista vai além de publicar: requer responsabilidade. A liberdade de imprensa é garantida para salvaguardar a sociedade, e não para proteger o ego de quem se expressa.
A verdade é que nunca se falou tanto e se refletiu tão pouco. Não é o excesso de vozes que é problemático, mas a falta de consciência sobre o poder da palavra. Liberdade sem responsabilidade é apenas barulho; jornalismo sem ética é propaganda; e opinião sem compromisso é apenas vaidade exagerada.
O desafio atual é recuperar a importância da palavra falada. Falar não se resume a expressar – é também influenciar. E quem entende o impacto de sua própria voz reconhece que liberdade não é poder falar tudo, mas ter consciência do que não se deve dizer.